Muçulmanos

Muçulmanos
Extractos do livro “Alte na Roda do tempo” de Isabel Raposo

Os muçulmanos conquistam o Império Visigótico e mantêm durante cinco séculos (711 a 1247) o seu domínio no sudoeste da Península, o Garb-al-Andaluz. A costa algarvia, favorece a actividade piscatória, a navegação e o comércio marítimo com o resto do mundo islâmico.(…)
O litoral é densamente povoado com pequenas e médias cidades de mercadores e artesãos. Em Silves a mais importante do Algarve floresce a cultura árabe entre a classe dominante e multiplicam-se os poetas e filósofos.

Segundo o Arquivo da Casa d´Alte, numa vertente soalheira do sopé da Rocha Maior, existiria um “alcazar”, ou poço muçulmano onde os senhores de Alte terão habitado, nos séculos XIII e XIV, depois da “Reconquista”. Segundo a mesma fonte, desse poço restaria uma sala (…) sobre a qual teria sido construído o Tanque Grande do morgado. O que hoje se observa dessa construção pode ter sido uma cisterna. Frente a ela passa o antigo caminho público que liga Esteval dos Mouros e Monte Brito à aldeia de Alte e a S. Bartolomeu de Messines.

Na serra, as comunidades muçulmanas são auto-suficientes vivem dispersas pelos montes ou em pequenos povoados de pastores transumantes e agricultores.
No sitio de Corte Bucho, antiga Vila Ruiva, (…) situada em uma vertente a norte do rio Arade, os agricultores têm descoberto inúmeros vestígios arqueológicos: restos de paredes, telhas e sepulturas. (…) Nas proximidades deste local e na outra margem do rio, no sítio onde se ergue a escola do Zambujal, as populações têm encontrado, espalhados, algumas sepulturas cobertas por lajes. Consideramos que ali terá existido uma povoação rural ou alçaria muçulmana (…).
Perante o avanço da conquista cristã é implantada uma rede de fortificações de taipa ou husun, situadas em pontos estratégicos, sobranceiros aos cursos de água, para apoio e defesa dos povoados rurais e comunidades agro -pastoris dos arredores.

Segundo o Arquivo da Casa d´Alte, terá existido um castelo em Alte, “sobranceiro a uma grande baixa por passava a antiga estrada de Loulé”. A ter existido o castelo d´Alte faria parte, como o de Paderne e o de Salir, daquele conjunto de pequenos dispositivos defensivos. Dele apenas ficou o nome, num dos quatro cabeços que envolvem a aldeia-sede, o cerro do Castelo, assim cantado nos versos populares:
“Quatro cerros tem Alte
Que o cercam em redor
Galvana e Francilheira
Castelo e Rocha Maior”

As referências que nos dá Ataíde Oliveira sobre o castelo d`Alte não são conclusivas. Num primeiro artigo de 15Fev1914, que escreveu no jornal Província do Algarve, aceita a existência do castelo de acordo com documentos que lhe foram sub ministrados pelo conde de Marim. Uns meses mais tarde em 18Out1914 assume posição contrária afirmando que conhecendo perfeitamente a freguesia, nada acusa a sua existência.
(…) Os muçulmanos generalizam o uso da taipa, difundida por todo o Mediterrâneo pela adaptação ao clima quente e seco. Com este material constroem as paredes das casas rurais, tal como a maioria das casas urbanas das classes dominantes, (…).
No que respeita à toponímia árabe, ela foi em grande parte substituída depois da “Reconquista”. Na freguesia de Alte persistem alguns topónimos com origem, como é o caso de Alçaria do João e da Atalaia ( que significa ponto elevado ou fortificação de onde se vigia), ou alusivos à tal presença, como Esteval dos Mouros, Benafim Grande terá também, segundo a tradição, origem no nome do rei mouro Abenafan que terá ali instalado uma casa de campo.

É sobretudo na tradição oral e nas lendas que persiste na memória da presença muçulmana. Em vários lugares da freguesia conta o povo no aparecimento de formosas mouras encantadas que possuem, em geral outros tentadores tesouros igualmente encantados.
È o caso do sítio do Alfarrobeirão, junto à aldeia de Alte, onde a visão tinha lugar à meia-noite ou ao meio-dia. Contava assim uma senhora aí residente nos finais do século passado, sendo a discrição de Ataíde Oliveira (1898, p. 85).
“ Não creio em bruxas nem em mouras encantadas(…) porém vi, debaixo de uma alfarrobeira (…) uma senhora mui formosa e gentil (…) Estava vestida de preto; era alva como a neve e de uma aparência extremamente agradável e insinuante ,(…) Sabia (…) sabia por ter ouvido dizer à minha avó, que ali costumava aparecer uma moura encantada e por isso pus-me de corrida (…) .
Nunca mais me aproximei de tal árvore, apesar de então ter apenas catorze anos e hoje já ter cinquenta.”

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