Alte no Reino do Algarve, 1ªparte

Povos e culturas que atravessaram o território “ Alte ”
Extraído do livro - Na Roda do Tempo, de Isabel Raposo

Pelo território que é hoje a freguesia de Alte ( a Freguesia de Benafim separou-se da freguesia de Alte em 1988) passaram ao longo dos tempos, diversos povos e culturas.
Ao Sudoeste da Península Ibérica foram chegando durante milénios, vagas sucessivas de povos de origem continental, vindos do Norte e outros de culturas mediterrânica, chegados pelo litoral sul, que ali se confrontaram e cruzaram entre si e com as populações pré-existentes. (…)
Desde há longa data – quase três milénios – o litoral algarvio foi assediado pelas grandes civilizações do Mediterrâneo Oriental, (…)
Importa referir que os vestígios dos povos que aqui viveram são quase sempre atribuídos pelos camponeses à moirama, como uma referência a tudo que é antigo e desconhecido, mas também como uma apologia aos muçulmanos, o último povo que dominou a região até à “Reconquista” do Algarve pelo reino de Portugal, há sete séculos, e que perdurou na memória e no imaginário das gentes como povo sábio, rico e mágico.
O Neolítico
Há vestígios de populações que terão ocupado a região cerca de 4000 anos a.C. São comunidades com economia agro-pastoril e semi-nómadas, que se abrigavam e enterravam os seus mortos em grutas, (…) Na gruta denominada Igreijinha dos Soídos não foram descobertos vestígios pré-históricos (…) Em Paniachos, na Quinta do Freixo, a 3 km de Alte, foi identificado um povoado atribuído a este período, com destígios de casas de planta circular (…)
As Idades dos Metais
No final do século passado, Atáide Oliveira registara nesta freguesia doze minas de cobre, sendo depois de Querença a freguesia do concelho de Loulé com maior número destas jazidas. Em Alte as principais minas localizam-se na Cerca da Mina e na Atalaia. Esta última situada a 1,5 Km de Santa Margarida.
A exploração de algumas destas minas continuou a ser feita pelas populações até ao século XVIII e, nalguns casos até princípios do século XX. (…)
A criação no século VIII a.C. da feitoria do cerro da Rocha Branca, junto ao rio Arade, a 10Km da foz e a 1Km da actual cidade de Silves, dever-se-à em grande parte às trocas comerciais estabelecidas entre os mercadores fenícios e a aristocracia local, cuja formação terá sido favorecida pela riqueza do cobre da região.(…) era navegável o rio Arade.
Os Romanos
A Península vai sendo integrada no mundo urbano pelas grandes potências que dominaram o Mediterrâneo , Depois dos Fenícios, algumas influências gregas, o imperialismo cartaginês e segue-se a colonização romana.(…) durante oito séculos.
Com a romanização é criada uma rede (…) de estradas de diferentes categorias que liga os diversos aglomerados. É natural que uma via secundária passando através do território da actual freguesia de Alte, ligasse Messines a Salir, permitindo o escoamento dos produtos das comunidades e vilas instaladas na beira-serra: Vila do Zambujal, Vila Verde do Vale, Quinta do Morgado e Quinta do freixo.( Salir e Messines eram dois aglomerados romanos importantes, por passavam duas das três vias que ligavam o litoral algarvio).
Vila Verde do Vale, hoje Santa Margarida, nome da ermida aí presente; Vila Zambujal, hoje lugar da Cerca do Zambujal; Vila Ruiva, hoje Corte Bucho, esta última com ruínas do período islâmico. (…)
Na cerca do Zambujal, foram identificados inúmeros testemunhos romanos (…) Ali afloravam restos de paredes, com pedras talhadas a picão, ladrilhos inteiros, telhas (…) sepulturas em alvenaria de tijolo (…) contento ossos humanos e cinzas(…)
“…as pedras que têm estas casas foi tudo tirado dali, da cerca do Zambujal, pedras compridas, tudo talhado…. Chamavam àquilo a vila do Zambujal…” (Francisco Belchior, Torre)
Os agricultores da zona ainda hoje se referem à existência de um túnel ligando a fonte à antiga vila do Zambujal:
“…A minha avó contava que havia ali uma porta grande da moirama, com um túnel grande que vai debaixo do chão além para a cerca do Zambujal. Esse túnel é todo em abóbada, em pedra. Com o tempo tapou-se, a gente já não conheceu aquilo.
Houve aqui um ano de Inverno, choveu muito, a terra embrandeceu e abrriu-se ali uma grande boca, ali ao é daquela alfarrobeira, ao pé da fonte.
Eu fui lá com o meu cão, joguei uma pedra pelo túnel e o cão correu por ali adentro e levou uma remessa de tempo até voltar para fora. Agora está outra vez tapado"
(Francisco Belchior, Torre)

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